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"Entrar ou não na faculdade aos 18?" - Estamos fazendo a pergunta errada!

  • Foto do escritor: Psicóloga Luana Pereira
    Psicóloga Luana Pereira
  • 29 de jul. de 2019
  • 4 min de leitura

Muito tem se falado acerca da decisão de entrar numa universidade imediatamente após sair do ensino médio. Alguns têm defendido que 17 anos é muito cedo pra escolher o que se quer fazer para o resto da vida e que, por isso, os jovens deveriam “dar um tempo a si mesmos” para descobrirem do que gostam através de trabalhos voluntários e/ou busca por autoconhecimento, e só depois disso escolher uma área de atuação e adentrar à universidade.


Bom, eu concordo que 17 anos é muito cedo pra fazer “a escolha da profissão da vida”, mas creio que o problema que realmente enfrentamos aqui é outro: é o peso que a nossa sociedade atual colocou nessa escolha. Exemplo disso é que há uma imensa pressão, até maior, sob aqueles que já não possuem mais 17, porque estes estariam “velhos demais para ainda não serem ‘alguém’ na vida”.


O segundo ponto é que o argumento de que 17 anos é muito novo para tomar uma grande decisão me parece seguir uma ordem meramente cronológica, que desconsidera o contexto e a experiência de vida como elementos importantes para a maturidade. A verdadeira questão é: na real, você nunca vai saber como é o caminho se você não o trilhar. Por mais que eu tenha pesquisado durante anos o que era Psicologia, nenhuma busca no google me deu uma mínima dimensão do que era, realmente, estudar psicologia - quiçá ser uma profissional.


Então, essa coisa de que você precisa pesquisar antes de tomar “a decisão” é meio balela, porque só sabe como é o curso, a profissão, a universidade quem os vive. É por isso que tem pessoas que saem experimentando diferentes graduações: na nossa cabeça é uma coisa, a realidade é outra. E quanto mais experiências você tem (pulando de curso ou não), mais pode se autoconhecer através delas e firmar melhor a própria identidade...


Certa feita ouvi uma frase da qual nunca me esqueci: “a cabeça pensa onde o pé pisa”. Eu não poderia concordar mais. Veja, o que está em jogo aqui é que nós colocamos um peso muito grande sob pessoas que estão tendo uma nova experiência (seja com 17, com 23, com 50…).


Tenho uma boa parcela de certeza que no mundo de hoje, com tantas opções de curso, mesmo a minha mãe ficaria confusa de que graduação escolher. Mas ah, minha mãe… aí vem um ponto importante: a gente precisa comer. A gente precisa se sustentar. E é aí que esse papo de deixar graduação pra depois vai tornando a coisa mais prejudicial do que bacana.


Porque veja: se entendemos que só vamos realmente saber do que gostamos ou não tentando, melhor começar com 17 e ir mudando até os 20 do que começar com 20 e ir mudando até se achar velho demais pra continuar sendo sustentado pelos pais - isso na hipótese de seus pais possuírem tal condição.


E olha, é preciso dizer também que a universidade pode amadurecer - e muito - alguém. Tive colegas de quase 30 muito mais confusas e imaturas do que eu, que cheguei imatura e fui amadurecendo ao longo dos anos na faculdade. A questão é que quando você começa a amadurecer, você começa a buscar mais e mais espaços que fomentam maturidade, criticidade e até mesmo autoconhecimento - dentro e fora dos espaços acadêmicos. Isso é papel da universidade, também.


E se o ambiente acadêmico é potencialmente adoecedor, grande parte da responsabilidade disso é da sociedade que estamos construindo. Uma sociedade extremamente meritocrática, que nos categoriza e hierarquiza por notas, que define as profissões de maior status e faz nossos jovens persegui-las como se fosse questão de vida ou morte. Uma sociedade que já tem lugares muito bem reservados a quem “nasceu pra vencer” - porque teve quem bancasse. Uma sociedade que diz constantemente que se você não consegue é porque você não é bom o suficiente, você é um fracassado. E, cá para nós, isso não vai doer menos com 30 do que com 17. Porque é cruel. Porque não é para ser assim.


Então, o que quero dizer com este texto é que precisamos lutar contra esse sistema opressor e adoecedor, mas pra isso precisamos nos apoiar e atacar o real problema. Se você tem condições e não quer fazer uma faculdade, ou pelo menos não agora, não faça, pode ser bom pra você. Mas se você precisa entrar na universidade agora, entre e busque apoio pra permanecer.


Porque alguns jovens estão adoecendo, independente da idade. Porque alguns jovens precisam botar comida na mesa, não há tempo pra passar um ano no Tibet buscando a própria essência (o que é um plano maravilhoso, mas pra alguns de nós precisa ficar pra depois). Porque os jovens não deveriam carregar um fardo tão pesado e desnecessário nas costas em momento nenhum. Porque, na real, alguns jovens sequer têm a chance de adentrar à universidade, quiçá escolher quando. Porque precisamos desnaturalizar essas violências e fomentar ambientes mais saudáveis. Porque precisamos falar sobre saúde mental, e isso vai muito além de um espaço e de uma faixa etária.

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